quinta-feira, 16 de abril de 2009

"Botecotaco, 10 de fevereiro de 1996"

Pesquisando os trabalhos do cartunista André Dahmer de “Os Malvados” encontrei o blog dele e lá eu li essa história que me fez repensar um monte de coisas sobre violência e o meu comportamento diante dela, então tomei a liberdade de roubar o texto do cara e expô-lo aqui ao sabor d’O Vento. Leiam e repensem-se. O site do Dahmer é: http://www.malvados.com.br/ ...e lá tem o link pro blog dele, que é de onde eu “Ctrl+C, Ctrl+V” o texto, e onde tem mais uma porção de interessantilidades.

“Botecotaco, 10 de fevereiro de 1996

Treze anos. Há treze anos decidi que vou seguir a marcha sem machucar ninguém. São poucos ao meu lado, mas ao menos me olham com doçura e sem medo. Foi uma conquista. Depois dos anos de ira, carreguei cruzes que nem eram minhas. Foi para me tornar menos bicho. Para parecer que meu caráter era menos indecente, covarde e mesquinho. Para me desculpar. Teve um preço. Foi caro, não cabe aqui dizer quanto. E não estou cobrando nada de ninguém. Na verdade, eu pagaria tudo de novo com a maior satisfação. Mas foi caro verter violência em amor. E me orgulho disso. Muito. Um dia, há treze anos, chutei a cabeça de um rapaz que já estava no chão, indefeso. Ele cortou meu braço com uma garrafada. Vinte anos, briga de bar. Por causa de uma menina fútil. Eu penso sempre nele. Eu penso sempre se deixei as marcas da minha fúria para sempre em seu rosto: Se ele não tem o nariz torto, se enxerga direito, se tem todos os dentes na boca. Eu sonho sempre com ele. Nos sonhos, ele sempre aparece vestido com a mesma roupa do dia em que brigamos: calça marrom, camisa vermelha. É o mesmo sonho, sempre. Aperto a mão dele, mas meu nariz sangra. Já sonhei tantas vezes com isso, que sei que meu nariz vai sangrar ao apertar a mão dele. E continuo apertando, sonho após sonho. Treze anos. Treze anos que sonho com isso. Eu já fui tão bruto, mas há treze anos decidi que vou seguir a marcha sem machucar ninguém.”

André Dahmer

Um comentário:

Claudinha Santos disse...

"O texto traz uma reflexão muito forte... Ainda bem que ele quis fazer a diferença ao perceber o quão errado estava naquele momento. Mas essa marca, pelo visto, jamais vai sair de sua lembrança, como se fosse um castigo, um preço a pagar com seus sonhos trasnformados então no pesadelo daquela noite. "

Claudinha